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Ser mulher no Brasil sempre custou mais caro. Durante anos, itens essenciais à saúde feminina foram tributados como supérfluos, enquanto produtos de luxo como lanchas e até armas de fogo receberam incentivos fiscais. Essa contradição não é mero acaso: ela reflete um sistema tributário que não apenas ignora as desigualdades de gênero e renda, mas as aprofunda.
No Mês da Mulher, é essencial ir além das homenagens e discutir uma questão concreta que impacta diretamente a vida das brasileiras: a tributação desigual. A Reforma Tributária de 2023 (EC 132/2023) trouxe avanços importantes, como a isenção de impostos sobre absorventes menstruais e a redução da carga tributária de produtos de higiene pessoal. Mas a realidade ainda impõe desafios. O Brasil segue com um modelo de tributação regressivo, que cobra proporcionalmente mais de quem tem menos – e nesse grupo, estão milhões de mulheres, especialmente negras e de baixa renda.
Embora os princípios constitucionais do Estado Democrático de Direito garantam a igualdade de tratamento entre homens e mulheres, conforme o artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal de 1988, que estabelece que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”, o artigo 150, inciso II, também reforça esse princípio ao vedar “tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente”.
Minas Gerais reflete essa desigualdade. No estado, as mulheres representam 51% da população, mas continuam ganhando menos que os homens, acumulando jornadas de trabalho duplas ou triplas e destinando uma parcela significativa da renda a produtos básicos que seguem pesadamente tributados.
O ICMS, principal imposto sobre o consumo, incide da mesma forma sobre um item essencial e sobre um bem de luxo. Isso significa que mulheres que precisam de produtos ligados à saúde íntima ou ao trabalho de cuidado – como fraldas, medicamentos e alimentos infantis – pagam as mesmas alíquotas que quem consome supérfluos. O resultado? Um sistema que, em vez de equilibrar, amplia as desigualdades.
Além disso, apesar dos avanços recentes, medicamentos para anticoncepção, tratamentos para climatério e até serviços de saúde continuam altamente tributados. Esse peso financeiro limita o acesso a cuidados essenciais e reforça as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no dia a dia.
Corrigir essas distorções deve ser um compromisso do país. Para isso, algumas medidas são urgentes:
Redução ou isenção de tributos sobre todos os produtos essenciais à saúde feminina, incluindo medicamentos e itens de cuidado. Diferenciação tributária entre produtos essenciais e supérfluos. É inadmissível que bens básicos tenham a mesma carga tributária que itens de luxo. Maior transparência na aplicação dos impostos sobre o consumo. A tributação não pode seguir penalizando mais aqueles que menos podem pagar.
A tributação não pode ser um fator de aprofundamento das desigualdades sociais, vez que mal aplicada, como ainda ocorre no Brasil, amplia as diferenças e penaliza os mais vulneráveis. Mas essa mesma tributação quando bem estruturada, aplicando-se o princípio da extrafiscalidade, é um poderoso instrumento de justiça e equilíbrio.
No Mês da Mulher, não basta reconhecer o problema – é preciso enfrentá-lo. A luta por uma tributação mais justa também é uma luta por equidade de gênero e direitos sociais. O Sindifisco-MG acredita que corrigir essa distorção não é apenas uma questão de justiça fiscal, mas de respeito e compromisso com um futuro mais equilibrado. Seguimos firmes nesse debate, defendendo um sistema tributário que seja, de fato, mais justo para todos – e, sobretudo, para todas.
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