Período: Março/2025 | ||||||
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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, veio salgado em fevereiro. Subiu 1,31%, atingindo o maior valor para o mês em 22 anos (desde 2003, portanto). Na avaliação de analistas, um dos efeitos imediatos dessa alta é o aumento da pressão tanto sobre o governo como por uma nova elevação da taxa básica de juros, a Selic, que será definida na próxima semana pelo Banco Central (BC).
No caso do governo, o aumento dos preços mostra que não será simples a tentativa do Planalto de reduzir a inflação, que tem causado prejuízos recorrentes à popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Daí, o anúncio do corte do imposto de importação de vários produtos, feito por Brasília.
Em relação à Selic, o mercado já tem como certa a elevação da taxa em 1 ponto percentual, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, entre terça-feira (18/3) e quarta-feira (19/3). Com isso, ela passaria dos atuais 13,25% para 14,25% ao ano.
Tal aumento já está previsto nos comunicados emitidos pelo Copom. Mas, para Bruno Shahini, especialista em investimentos da fintech Nomad, o resultado do IPCA deve resultar numa “comunicação dura, que possa garantir que a autoridade monetária fará tudo ao seu alcance para a convergência das expectativas de inflação”.
Juros mais altos
Nessa mesma linha, Luciano Costa, economista-chefe da corretora Monte Bravo, observa que o resultado do IPCA indica que a “inflação está disseminada e em patamar incompatível com a meta de inflação, demandando uma postura firme do Banco Central”. “Isso reforça a manutenção da alta de 1 ponto percentual da Selic na reunião de março”, diz. “E acreditamos que a deterioração do cenário inflacionário exigirá a continuidade do ciclo, com uma elevação de 0,50 ponto na reunião de maio, levando a taxa Selic para 14,75% ao ano.”
IPCA de fevereiro
E o que aconteceu com o IPCA do mês passado? “Fevereiro é um mês de inflação mais alta, isso não é novidade”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. “O fato de a inflação de ela ter sido a mais alta em duas décadas incomoda, mas tem alguma lógica: a retirada do bônus de Itaipu das contas de energia residenciais adicionou uma sazonalidade a mais.”
Para a economista, a inflação em 12 meses, que atingiu 5,06%, “confirmou o que alguns membros do BC já comentaram: vai piorar antes de melhorar”. “Por trás desse número, temos um mercado de trabalho ainda muito aquecido, que contribuiu para uma inflação de serviços permanentemente elevada. E isso certamente levará alguns meses para começar a mudar.”
Inflação menor
Helena destaca que, “daqui para frente, o que se espera é uma inflação corrente menor, com o fim do impacto de fatores como educação e habitação”. “Por outro lado, os riscos seguem assimétricos para cima por conta de alguns fatores, como o câmbio (Trump + fiscal) e questões climáticas, que podem continuar impactando os preços de alimentos.”
O economista André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), destaca que o “IPCA veio com vários ajustes concentrados”. “Houve a saída do bônus de Itaipu, a conta de luz subiu 16%, aconteceram reajustes de ônibus urbanos, combustíveis, mensalidades escolares e também da alimentação, embora essa tenha aumentado menos. Para março, a taxa deve cair pela metade, mas inflação continua pressionada.”
Pressão dos alimentos
Braz nota que a alimentação deve continuar como a protagonista da alta de preços em março. “Não é à toa que o governo está tentando diminuir essas pressões com redução de taxas de importação”, afirma. “Mas esse fator vai continuar no radar por alguns meses.”
O economista nota que o preço de alguns produtos aumentou como resultado de um “choque de oferta”. Ou seja, houve uma diminuição das vendas, em paralelo a um aumento da demanda. “Quando não tem um produto para vender, não adianta subir juros”, diz. “Pode colocar os juros lá em cima que o preço não vai diminuir.”
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Atualizado em: 14/03/2025 14:03 |