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Cássia Almeida e Camila Nobrega
Os números da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de dezembro, divulgados ontem pelo IBGE, mostraram que a crise financeira global ainda não chegou com força ao mercado de trabalho das grandes cidades. A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil recuou de 7,6% em novembro para 6,8% em dezembro, abaixo do que o mercado esperava (superior a 7%). É a menor parcela de desempregados na força de trabalho desde 2002, início da pesquisa do IBGE.
Os sinais da crise na pesquisa, que acompanha mensalmente 25% da população ocupada brasileira, apareceram nas entrelinhas. Ficou visível apenas na diferença entre as taxas de 2007 e 2008, que começaram a diminuir a partir de setembro. Antes de a crise se acirrar, ainda em agosto, havia expectativa de que a taxa em dezembro ficasse abaixo de 6%. Mas tudo mudou.
Como reflexo do pré-crise, o mercado de trabalho ficou melhor em 2008, com mais renda e emprego com carteira assinada. A taxa média de desocupação ficou em 7,9%, bem inferior aos 9,3% de 2007. O rendimento médio real (descontada a inflação) subiu 3,4%, alcançando R$1.260,24, mas não o suficiente para alcançar o valor de 2002 (R$1.284,50).
- Não se vê ainda na PME sinais da crise. Há demissão de temporários na indústria, mas o comércio contratou e compensou as perdas - afirmou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa.
A expectativa de Azeredo, diante do comportamento da pesquisa nos últimos anos, é que o reflexo da crise apareça mais fortemente em janeiro, quando há a demissão dos temporários do comércio, e as pessoas voltam a procurar trabalho. No último mês de 2008, 199 mil pessoas deixaram de procurar uma ocupação:
- Em dezembro, a taxa cai porque a procura por trabalho, que caracteriza o desempregado, diminui muito.
Especialistas acham que este ano será diferente. Para Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), começaremos a ver a taxa de desemprego ficar maior que no ano anterior. Fenômeno que ficou para trás durante todo o ano de 2008:
- A diferença de dois pontos percentuais na taxa de desemprego média de 2008 frente ao ano anterior baixou para 0,6 ponto em dezembro. É o primeiro sinal da desaceleração da economia no mercado de trabalho. Mas ainda não chegou de forma flagrante a ponto de contaminar os principais indicadores do mercado.
Este mês a história deve ser outra. Ele acredita que os primeiros meses de 2009 vão apresentar números mais próximos dos de 2007 (9% de desempregados dentro da força de trabalho) do que de 2008 (8%).
LCA espera desemprego médio de 8,5% em 2009
João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ, é mais otimista. Acredita que o primeiro trimestre deste ano apresente números semelhantes aos do início de 2008:
- A grande dúvida é quando o desemprego vai parar de crescer. Historicamente, a taxa aumenta no primeiro semestre. A única certeza é a de que o mercado ficará pior este ano. O reajuste de 11% no salário mínimo, porém, ajudará a manter a demanda.
Para Fábio Romão, da LCA Consultoria, o desemprego deve ficar em 8,5% na média deste ano e, depois de fevereiro, superar os números de 2008.
- A subida do mínimo e a queda da inflação vão fazer os setores de comércio e serviços sofrerem menos com a crise.
É o que espera o cozinheiro Marcelo Nogueira, que foi dispensado por uma rede de supermercados este mês:
- Mandaram um monte de gente embora junto comigo.
A operadora de telemarketing Kenia Oliveira também foi demitida numa dispensa coletiva este mês. Ela estava há oito meses no emprego:
- Houve corte de pessoal e acabei indo também.
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